O cheiro de sapoti em mim

Era em meados de 1987 quando corria por aquela avenida barulhenta, correndo da bengala do Seu Zé Deó nas minhas canelas quando passava na calçada da Zuca Lopes pra ir lá no muro roubar sapoti. Ahhh, como aquele cheiro me deixava feliz aqui dentro. Aquele cheiro de estação nova, cheiro de brincadeiras com a Dorinha, a Verinha, o Chiquim e o Melquíades... Minha turma de amigos da Campos Sales, tão cheia de zuada, cheia de asfalto que queimava os joelhos nas brincadeiras do queima... E o cheiro do sapoti acompanhando toda nossa agonia de chegar do lado de lá e pegar o chinelo...
E quando ficávamos correndo pela 24 de janeiro, arrodeando até a 7 de setembro, passando pelo Bom Clima, subindo pra Benjamin Constant e se abeirando lá pra Miguel Rosa depois do colégio dos pobres, até voltarmos pra dobrar a esquina e passar do outro lado da calçada do colégio dos ricos, lá onde aqueles meninos com fundo de garrafa não podiam brincar na rua, só se entupir de livros... Eles não sabiam o gosto do meu sapoti...
- Dona Menina

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