Dias de angústia, dias de calmaria

 

Quero só desabafar. Hoje está sendo muito angustiante pra mim. Os últimos acontecimentos têm me feito tremer na base. Cada dia uma coisa me faz repensar a vida. Desde a ida da Mone estou em um processo de luto silencioso e doloroso, não consigo falar, não tenho jeito para expressar, não sei como e nem com quem desabafar... às vezes quero aceitar seu novo caminho, com o conforto de que ela não sente mais tanta dor e sofrimento, mas outras eu fico pensando o porquê ela não se curou e continuou seu caminho aqui com a gente. 

Eu a vi se elevando para uma conexão direta com Deus nos seu últimos dias, a leveza do espírito contrastava com o peso do corpo, já enrijecido de tantos nódulos de câncer. Ela tinha um olhar de leoa, tinha um ar que parecia um rugido. Ela não gritava, ela rosnava, com fúria, com a raiva de quem quer muito se libertar de tudo e descansar. Eu não sabia cuidar dela sem querer chorar  e me lamuriar por tudo aquilo. Então eu fiquei distante, mesmo com medo dela estranhar, ou se chatear comigo, não, vi no olhar dela a compreensão da sábia, que agora respeita o limite humano e espera só que Deus ilumine a nós como a iluminou nesses dias.

Hoje essa angústia me faz pensar muito nela. Lembro bem de sua angústia antes, quando descontava em tudo e em todos. Lembro umas vezes quando caía no chão chorando e se desesperando pois não conseguia resolver um problema, pois estava além de suas forças. E lembro depois, na sua angústia pela doença e aquela compreensão de sua própria dor. Como foi visível sua evolução. Foi uma luz. Por isso, hoje, estou tentando fazer como ela, nessa angústia quero ter a compreensão do que estou passando e tirar o melhor aprendizado disso. 

Hoje quero escrever, porque estou com medo de morrer... Em um ano de pandemia, eu não fui diagnosticada nem uma vez com Covid-19. Já tive contato um pouco próximo, um pouco distante com pessoas contaminadas. Dentro da casa da minha mãe. No local de trabalho. Na rua. No barzinho que frequento... tenho a mera impressão de que já toquei alguém com esse vírus. Mas, eu não tive nenhum sintoma forte, nem falta de ar, nem febre... tenho minhas ITES de toda vida, me automedico (isso é um grande erro) porque sempre sei qual vai me curar... Eu até demorei a fazer um teste. Fiquei apreensiva. Mas deu negativo o resultado. Tempo depois, fiz outro, o do sangue e mais uma vez, deu negativo. Nem reagente deu...
Fiquei assim, pq pensei que já tivesse pego e ficado assintomática. Mas não.

Há 5 dias minha irmã está internada num hospital público distante daqui com sintomas fortes. Febre, cansaço, tontura, náusea, fraqueza... e ela demorou a ser medicada, demorou a ser encaminhada para o lugar certo. A médica de outro hospital que ela foi se consultar a mandou pra casa, com medicamentos que não fizeram efeito e fez ela ter uma piora no quadro. Foi a Fá. Antes de ontem, no domingo, fiquei angustiada como agora e desabafei no meu insta, e todos os amigos dela, que não sabiam de nada me procuraram querendo ajudar... eu dei a chave Pix pra eles ajudarem-na e muitos foram solícitos... mas os mais próximos me criticaram fortemente... e hoje estou me sentindo toda errada, como se tivesse cometido um crime, algo ruim, machucado alguém. Talvez mesmo tenha machucado, o orgulho de algumas pessoas que foram atingidas com a necessidade de alguém tão próxima. 

É chato ficar assim. Nem tenho motivo pra ficar assim. Não consigo enxergar o mal que causei. Mas, a forma como me tratam depois disso é muito ruim... eu sei que vai passar. Espero que seja logo.

Quem sabe eu tenha feito uma coisa essencial para o futuro, né não?

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