Coração criança, de Menina!!!

Um dia de quarta, trabalho mais lento, cansaço, correria, aperreios
Mas eu ligada no meu tempo de criança
Onde brincava de ser vencedora na profissão, queria ser cantora
Onde brincava de ser famosa, queria ser bailarina
Onde brincava de ensinar, de cuidar, de mudar vidas, de percorrer o mundo, queria ser professora.

Em minhas brincadeiras, quase sempre solitárias, eu administrava meu mundo com força, coragem e sabedoria. Amava minhas bonecas de pano, com rosto de louça, cabelos cacheados, mesmo gostando também das parecidas com a barbie, a meu bebê que sempre quis ter mas nunca ganhei uma grande que amava, a bonecão que vinha só com uma sunguinha, toda de plástico, até o cabelo, que quis tanto ganhar e quando a Norma (que realizou quase todos os meus desejos de criança) me deu foi a negra dos olhos azuis, muito diferente das outras das minhas amiguinhas, que adorei não ser igual. Dos brinquedos que sempre quis ter e nunca tive foi UMA BICICLETA, até hoje eu não sei andar de bicicleta, teve um tempo que a Alexsandra quis me ensinar na dela, eu arranhei, mas tinha muito medo do papai descobrir e travei... Depois esqueci disso e segui feliz. Como muitas crianças de classe média, eu tive uma infância cheia de passeios, brincadeiras, viagens, música, dança, estudo, proteção... 
Tem uma parte da minha infância que nunca esqueço: meus sonhos estranhos: eu me sentia levitando, deitada, como que flutuando da rede que dormia, sentia a presença de anjos, de luz, minhas costas ficavam sentindo o vento do quarto, e quando acordava era como se tivesse caído rápido, isso me dava um frio na barriga, eu rezava muito, rezava e depois dormia. Não falava pra  ninguém porque no outro dia eu esquecia, mas isso aconteceu várias vezes na minha infância.
Tem outra parte inesquecível era quando eu era esquecida no colégio, e quando isso acontecia, o vigia, que não lembro o nome, colocava uma cadeira pequenina do lado da dele na calçada do Pituchinha da Des. Freitas e ficava falando tanta coisa, contando histórias, falando da vida dele. Confesso que não entendia nada, mas me sentia tão importante na vida dele, como não era na vida da minha família que até me esquecia, eu estudava a tarde e ficava até a noite esperando ele ir me deixar, de bicicleta, na frente, numa cadeirinha de espaguete que ele dizia ser da filhinha dele.
Outras coisas foram as escolhas que fiz enquanto não sabia o que eram escolhas na vida: escolhi meus colégios, minha profissão, meu rumo na vida até chegar aqui, a escolha foi minha. Lembro de quando terminei a 4ª série (5º ano agora) no Pituchinha e meu pai quis me colocar no Cursão, que ficava no mesmo prédio, só que em cima, e de lá os alunos mais velhos ficavam jogando coisas na gente, cuspindo, jogando água, refri ou coisa pior (isso mesmo: xixi), eu peguei um abuso daquela escola que pedi insistentemente para não ir. Por causa disso, meu pai falou com o Sr. Marcílio pra me dar uma bolsa integral no Dom Barreto, escola perto de casa, que tinha muros gigantes e alunos de óculos fundo de garrafa, que não podiam brincar, correr, passear por causa das tarefas gigantes. Eu não entendia e tinha medo demais de ficar daquele jeito. Precisava fazer um teste, fui fazer por imposição de papai, só não sabia de uma questão... mas não queria estudar lá... então... coloquei a pequena frase: 1ª - NÃO SEI! 2ª - NÃO SEI! 3ª - NÃO SEI! 4ª - NÃO SEI! 5ª - NÃO SEI! 6ª - NÃO SEI! 7ª - NÃO SEI! 8ª - NÃO SEI! 9ª - NÃO SEI! e 10ª - NÃO SEI!, a única que não sabia, pq ainda não havia estudado na 4ª série a raiz quadrada de 5...
Se eu me arrependo? As vezes sim, muito. As vezes, não. Penso em que caminho estaria se fosse uma aluna do DB. Penso se estaria pobre ainda, se seria tão impulsiva, se teria a sorte na vida que tenho, se daria valor as coisas que hoje dou, se seria sentimentalóide assim... sei lá! Acho que não tenho tempo de me arrepender. Mas sinto o vazio que é um diálogo franco entre adultos e crianças. E até erro em falar de forma clara e direta as coisas pra meus filhos, pra ver se eles entendem, o que é em vão esse esforço meu, pois eu só entendi depois que cresci, fiquei adulta (se eu for!).


Da minha infância só a inocência me incomodou muito na adolescência. Quando passei a ver tudo através da lupa do coração, tudo grande demais, infinito demais, exagerado... Mas depois que bati muito a cabeça, errei bastante, caí, levantei, caí, levantei penso piamente que é bom sim... ter inocência... não olhar o mundo com tanta informação acumulada, com tanto paradigma recebido, com tanto preconceito incutido na visão de uma sociedade ainda rastejando em evolução espiritual.


Da minha infância o desejo de voar, de brincar de bonecas e ursinhos de pelúcia, de lamber a panela da massa de bolo, de espocar balão, de tomar banho de mangueira na porta de casa, de aprender tudo o que vem de novo com a paz de espírito de uma leiga.


Da minha infância os sonhos de vencer, de crescer, de ser diferente!
Da minha infância o coração ainda pulsando no mesmo ritmo: amando a vida e tudo o que ela me dá.


Coração de Menina, não cresce!!!


Coração de Ninininha



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