Sou páginas viradas de uma história sem fim...

E minha mãe pegou um livro meu (um livro de  contos sobre vampiros e magia) e apontou pra mim com raiva:
-VOCÊ É O LIVRO QUE LÊ. Essas porcarias que você coloca dentro de casa faz você ficar do mesmo jeito. Essas coisas de bruxaria, de espiritismo, só faz coisa ruim.

Oh, minha mãe, tão sábia mãe.
Eu sou sim, todas as mocinhas indefesas nas presas daqueles monstros.
Eu sou sim, aquela judia que correu atrás de seu grande amor e levou um tiro na testa.
Eu sou a vampira que sofreu por não conseguir ter perto de si seu grande amor.
Eu sou a menina com câncer terminal que encontrou seu grande amor e o perdeu pra morte e não pode morrer com ele.
Eu sou aquela menina que perdeu os pais e vive atrás de magia para encontrá-los em outro mundo.
Eu sou cantora, sou musicista, sou desenhista, sou poeta, sou bruxa, sou fada, sou mãe, sou filha, sou madrasta, sou cozinheira, sou viajante, sou astronauta, sou mendiga, sou vampira, sou sábia, sou escrava, sou o monstro mais voraz. Mas eu sou mesmo aquela menina desesperada tentando entender o mundo que me rodeia, aquela que pergunta, e pergunta e pergunta, e quando tem todas as respostas a vida muda todos os conceitos.

Eu sou sim, mãe, cada página que folheio quando abro um livro novo.

Sabe, mãe, eu sou um livro velho, já cheio de poeiras, jogado na estante, cansado de tanto ser mexido. Sou aquele livro esquecido, aquele borrado, aquele cheio de traças. Sou mesmo um livro reformulado, com todos os erros corrigidos pelo autor, e o autor é dono da melhor livraria do Universo, e cuida dos seus livros por igual, página por página, linha por linha para que um dia eles se transformem em best sellers ao seu lado. O autor de nossas vidas é onipotente, onipresente e onisciente em sua biblioteca. E hoje eu só rendo graças a Ele, minha mãezinha querida e sou sim, o que eu leio.

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