UM DESABAFO SOBRE O DIA QUE TUDO MUDOU EM MIM

 Hoje eu quero falar mais intimamente sobre aqueles dias internada na UTI.

Na madrugada do dia 03, quando desmaiei, estava sozinha em meu Ap. Coisa que tinha costume e até gostava muito, pois morar sozinha desde 2016 foi uma das melhores escolhas que fiz. Mesmo vendo minha família todos os dias, eu tinha meu refúgio.

Quando me vi no chão, com uma dor na testa muito forte, soube que tinha desmaiado e podia ser muito perigoso qualquer esforço maior. Comecei a chorar alto, muito alto, como que pedindo socorro para os vizinhos, mas sabia que às 03h da manhã seria quase improvável alguém me escutar. Eu me levantei, fui ao chuveiro, tomei um rápido banho e me deitei na cama, com a cabeça muito pesada e o corpo tremendo ainda de fraqueza. Já na cama peguei o celular, tentei falar com a única pessoa que pensei estar acordada naquela madrugada de sexta, minha filha. Mas, eu me enganei. Cheguei até a postar um emoji de tristeza, pra saber no outro dia a que horas eu tinha desmaiado. Pensei em falar com tanta gente. Em ligar para minhas irmãs, mas só ia preocupá-las. Até porque eu já estava na cama, né? Pensei nas pessoas que um dia eu gostei, pensei na minha família que hoje estão mais distantes do que os desconhecidos, por motivos que só eles sabem. Pensei em ligar para o meu ex, que amo mais que muita gente. Pensei tanto que adormeci.

Meu sono foi conturbado, com sonhos angustiantes, com pesadelos... Quando acordei, não suportava mais tanta dor. Pedi ajuda a algumas pessoas, mas parecia que ninguém se importava comigo (sem vitimismo, por favor, entenda!) Sei que todo mundo tem seus próprios problemas. Não queria incomodar ninguém. Ás 9h liguei pra minha filha, chorando muito, ela não me entendeu. Estava muito abalada e com muita dor de cabeça. Mas, como ela não chegou adormeci de novo, cansada, fraca, com medo. Só às 11h, depois disso ela chegou e fomos à urgência da Casamater. Quando cheguei lá ainda chorosa e fraca, fui atendida e levada à observação, para tomar um analgésico na veia e soro. Fiz uma TC, esperei o resultado, já era umas 16h30, minha filha já tinha saído pra trabalhar. Quando a médica de plantão me diagnosticou com um AVC Isquêmico pequeno, no lado direito do cérebro. E me enviou imediatamente para a UTI. 

Foi como uma bomba. Foi um susto enorme, mas na hora eu me senti aliviada por não ter morrido naquela madrugada sem ninguém me ajudar, me socorrer, me ver em dor. Estaria muito feia e sem roupa e no chão do meu banheiro. 

E se eu tivesse morrido naquele desmaio? E se ninguém tivesse sentido a minha falta no outro dia? E se meu corpo entrasse em estado de putrefação no Ap? E se ninguém se importasse com o meu sumiço?

Eu fiquei me perguntando isso. Até hoje me pergunto. Não tenho respostas. 

A todo momento na UTI do hospital HTI Sul eu era observada, recebia medicamentos, injeções, soro, aferições, medições, exames... Todos me olhavam com uma certa curiosidade, pois estava acordada, consciente, esperta e forte. As perguntas se repetiram muitas vezes, por todos: O QUE VOCÊ TEM? VOCÊ ESTÁ BEM? Fui muito bem tratada e cuidada de verdade por profissionais muito carinhosos, amáveis e simpáticos. Fiz amigos que meu coração agradece. Quando saí de lá me deu medo de não fazer o certo e ter outro quadro daquele. O diagnóstico foi infarto lacunar núcleo-capsular direito  e ninguém ainda soube me explicar o que isso significa direito.

MAS AGRADEÇO MUITO, TODOS OS DIAS, A DEUS POR ESTAR AQUI. VIVA. ESTOU FELIZ. EU TENHO UMA NOVA OPORTUNIDADE DE RECOMEÇAR, MAIS UMA VEZ, DE VÁRIAS VEZES QUE RECOMECEI, MEU CAMINHO.

Quero muito ter o coração leve. Quero muito ser feliz nessa Terra. Quero ter a oportunidade de ganhar muito dinheiro, para ajudar como devo muitas famílias, para ajudar minha família, para fazer mais pelos outros e pelo mundo. Hoje estou pobre demais, e isso é pura desculpa pra isso. Tenho vergonha de pensar que só posso ajudar se tiver dinheiro. Eu não quero mais fazer parte de grupos voluntários. Hoje eu quero ajudar de verdade as pessoas. Quero fazer algo importante para as pessoas que me rodeiam. Quero fazer o bem a todos, mas preciso fazer algo real a quem me rodeia. Que Deus me entenda e me ajude a fazer isso. 

Sinto que sou muito voltada para mim, isso se chama de narcisismo, depois de tanto sofrer pelos outros, me entregar sem receber nada de volta, hoje eu sou, me vejo assim. Mas, já fui altruísta, fui mais solidária, fui mais doada aos outros, acho que fiz tudo errado. E quando precisei não tinha ninguém. Estava sozinha. E podia ter morrido ali. SOU GRATA IMENSAMENTE, POR AINDA ESTAR AQUI, ESCREVENDO ESSA HISTÓRIA. QUERO QUE ELA FIQUE GUARDADA AQUI, POIS VOU GUARDÁ-LA PRA SEMPRE.

Quando saí da UTI, fui á janela do Apartamento do hospital e estava um dia nublado e lindo. Depois choveu. Ficou aconchegante, como se me abençoasse. Sou grata.

Primeiro dia eu pensei que estava no momento de ir embora para perto de Deus. Nunca imaginei voltar à vida normal. Estava mal. Fraca e com medo.

Segundo dia na UTI pude ir para a poltrona, mesmo cheia de cabos e equipamentos.




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