Aos dezoito

Aos 18 eu sonhava em ter uma casa, com biblioteca e jardim e uma cadeira de balanço, 3 filhos, o homem da minha vida e o trabalho dos meus sonhos: escrever.
Queria conquistar o mundo e ao mesmo tempo ser reclusa entre estantes, escrivaninha e frio, pra usar um casaco bem grosso, é claro!!!
Lembro bem de querer cantar, entoar cânticos que expressassem toda a energia que acumulava dentro do peito, uma energia tão forte que vibrava, um vulcão em erupção.
Vulcão, era o que imaginava existir em mim.
Quem sou eu?
A retórica é persistente nesse momento de solidão, o meu desejo é povoar o ego, ocupar espaços com pessoas que vibram carinho e alegria, é povoar, é encher, é fazer volume... não, não é, o enredo desse filme é silencioso e cíclico, tem a saga do herói sem vilão, a saga do herói sendo seu próprio vilão...
Eu já fui poetisa um dia, quando imergia em águas profundas do meu oceano, quando sentia paixão, quando cultivava impulsos e desbravava sentimentos. Já poetizei minha morte, já roteirizei minha velhice, já discorri meus relacionamentos, já criei paródias, já escrevi. Eu usei meu coração um tempo atrás, hoje ele dorme... ele dorme e eu velo seu sono.

Aos 18 eu sonhava, hoje eu sonho o sonho dos 18, sonho 18 vezes mais, sonho ir mais 18 pra realizar, sonho nem sair do lugar, sonho em ficar... só não sonho voltar. Não.

Olhando bem os 18, eu nem sabia o que era sonhar, talvez tivesse replicando os sonhos de alguém, talvez tivesse assistindo um filme de dança e amor repetidas vezes, talvez estivesse vendo novela...
Escritora, cantora, leitora... ficou lá.
Hoje eu sonho com Deus, um velho amigo, cheio de alegria e força que me carrega pelo braço para o meu lugar, que me mostra o caminho e manda eu ir, nem que eu vá tropeçar, que pega minha mão quando caio, que me empurra quando não saio, que me pega no rosto e beija minha testa e diz bem alto: VAI, MENINA!!!

Aos 39

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