Foi preciso chegar ao ponto zero da vida mais uma vez

Precisei chegar até aqui para saber que eu quero ser muito mais do que já fui um dia.

Engraçado que para chegar até aqui, eu tive que ir mais baixo. O que chamam de fundo do poço, vou definir, para minha vida como o PONTO MENOS UM.

Em minha vida, eu sempre tive tudo sendo uma menina de classe média, de família clássica antiga, patriarcal, grande e tradicional. A última da geração de 12 filhos, tive muitos 'privilégios', mas nada que fosse mais do que uma menina da periferia. 

Tenho medo de falar sobre minha vida passada nesse momento, mas eu preciso falar.

Minha infância, até os 10 anos, foi na Av. Campos Sales, 1459 (tenho esse endereço decorado até hoje).  Lembro muito do sacrifício de minha família para me dar tudo do bom e do melhor. Escola particular, cursos extras, roupas e materiais novos todo ano. Meu pai e minha irmã sempre faziam de tudo pra mim. O que mais me marcou foram as minhas festinhas de aniversário, todo ano era um tema diferente. Minha irmã amava preparar tudo ela mesma, fazia surpresa, comprava bonecas que eu sonhava, não muito caras, as barbies nunca tive, mas tive as susies, as xuxas, as parecidas com ela... rs. Passeios eram corriqueiros, todo fim de semana estávamos no Clube dos Economiários ou da AABB. Quando tinha circo, parquinhos, peças infantis ela sempre me levava, ou então as outras irmãs. Lembro dos primos de Brasília e São Luís que visitavam Teresina, a gente aproveitava muito pra passear, eles me amavam. Todo domingo era de missa, e não podíamos faltar, eu acompanhava meus pais sempre. Nos festejos de União, terra de meus pais, era ótimo eu viajar no ônibus com papai e irmos pra casa do vovô e da vozinha. Amava a comida dela quando chegávamos, lembro até hoje do cheiro de azeite de coco na comida, aquele gosto, aquela sensação de felicidade. Todo ano a gente ia. E tinha a cidadezinha que minha nasceu, que até hoje amo: Liberdade, sim, o nome da cidade é Liberdade. E eu amo a Liberdade, em todo o seu significado e localização. Do jeito que você imaginar. Lá eu banhava de rio no Parnaíba, comia o bolo da vovó Maria, que ela tinha uma forminha só pra mim. Tinha o dindin gostoso de abóbora com coco. Tinha as festas da AABB de União na época do carnaval, eu só podia ir pra lá com meu pai. Meus irmãos e primos iam pro Balão, onde tinham mais gente grande e lotava lá. Eu não podia ir por ser pequena, ficava na AABB com os mais velhos e as crianças mais novas que eu. Tinha Campo Maior, quando ia com meus sobrinhos e minha cunhada e irmão, lá eu brincava demais, era muita folia, meus primos me faziam brincar de tudo em quanto e lá sempre chovia e nós brincávamos muito na chuva, na lama mesmo, nos córregos que alagava, nas biqueiras das casas, onde fazíamos de cachoeira. Era muito alegre.

Aos 10 nos mudamos para o bairro Parque Piauí. Eu odiei o lugar. Era deserto. Não tinha asfalto. As casas eram todas pequenas. A minha casa era pequena. E eu não conhecia ninguém. Foi em Outubro de 1987. Lembro bem que fui no caminhão, na boleia junto com minha irmã, pq queria aventura. E foi uma grande aventura, mas não gostei de ter ido pra lá. Aprendi a gostar do Parque depois, das pessoas, do ambiente calmo demais, das ruas estreitas, tudo diferente do Centro. E o mais chato era que minha escola ficou longe, tinha que pegar ônibus, coisa que nunca precisei pegar quando morava na Campos Sales. No bairro que moro até hoje eu vivi muita coisa ruim, mas também muita coisa boa. Pode parecer lógico, mas era tudo muito intenso. Minha adolescência foi ruim. Aos 16 tive depressão, passei dois anos num sofrimento que não acabava em mim. Até lutei muito pra superar isso, fui ajudada por muita gente, não fui tratada por profissionais, pois no meu tempo não era simples e barato um tratamento psicológico, mas aos 17 eu comecei a reagir. Eu me tornei muito medrosa e impulsiva. Agressiva demais. Confusa. Tinha o hábito de ler e escrever em agendas todos os tipos de escrita. Fazia poesias, contos e crônicas. Muita coisa minha se perdeu com o tempo, aqui neste blog tem algumas coisas que resgatei anos depois, mas muito pouco em relação ao que já fiz. As letras me salvaram da morte. Eu nunca consegui compreender todo o meu sofrimento. Tinha uma ferida aberta na alma. Minha saúde era impecável, nunca precisei cuidar de nenhuma doença, mas minha alma sempre foi debilitada. Eu sentia coisas que ninguém sentia, eu via as pessoas como ninguém via. Eu sofri muito antes de me conhecer intimamente. Sempre fui curiosa e isso me levou a estudar muito sobre o que sentia e vivia. Foi libertador me conhecer.

Aos 20 anos comecei a trabalhar. Antes disso passei dois anos sofrendo muito, pois descobri todo o sacrifício do meu pai pra me manter em escola particular. Ele sofria demais. Então resolvi ir trabalhar, mas não tinha nenhuma oportunidade. Resolvi sair da escola particular e cursar ensino profissionalizante, para me tornar uma técnica e depois pensaria no meu vestibular, que sonhava cursar jornalismo e trabalhar em jornais impressos. Escrever, escrever, escrever... era o meu maior sonho. Mas, com as possibilidades oferecidas na época, eu escolhi Técnico em Eletrônica, porque tinha uma chance de entrar na TV, que era onde minha irmã trabalhava como produtora executiva. E assim fiz. Aos 17 entrei na Escola Técnica Federal do Piauí, aos 18 tive vontade de trabalhar, aos 19 consegui uma bolsa-escola e trabalhei na área de planejamento da ETFPI durante um ano até entrar no estágio do meu curso, que tive muitas oportunidades de fazer bons estágios, mas escolhi trabalhar em televisão. Fui parar na TV Meio Norte em 11 de abril de 1997, como estagiária de eletrônica. Trabalhei durante 13 anos lá. Fiz uma grande trajetória e significativa, que me tornou a profissional que sou hoje, mesmo saindo em 2009, retornei agora em 2021 e estou recomeçando do PONTO ZERO. 

É desafiador. Mas é gratificante. Agora tenho mil e uns sonhos para alcançar. Não vai ser fácil, mas vai ser possível, porque eu vou fazer acontecer. 

Tudo é muito desafiador hoje. Mas vai dar certo. Agora é que é a hora de tudo ser como eu sempre sonhei. Hoje eu me conheço, eu sei quem eu sou, eu sei meu valor, eu conheço meu poder e tudo o que posso conquistar.

É agora a minha vez.

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