O oposto é a cópia do seu lado sombrio

Foto: Luiz Fernando

Eu sonho demais, dormindo nem tanto, acordada.

Tenho um mundo paralelo onde sou importante de verdade, onde sigo regendo um lar de verdade, com meu marido, meus filhos. Em meu lar tem um jardim, uma biblioteca e uma varanda, com uma rede sol-a-sol amarela, de varanda bem grande. E de frente pra varanda tem um girassol que de dia segue o seu curso e à noite abaixa a fronte, se curvando.
Ao redor tem rosas vermelhas, e flores de todas as cores. E na garagem meu fusquinha rosa.

Em meu mundo paralelo sou tranquila, segura e forte. Não tenho medos bobos, nem fico pensando que existe o impossível. Estou sempre trabalhando e ajudando todo mundo, sem esperar gratidão ou outra coisa. Nunca fico ociosa, sempre leio um bom livro, ouço boa música, escrevo, limpo, cozinho, lavo e varro (só não me vejo passando roupa, rs).
 
No meu mundo o tempo é meu amigo, aliado, companheiro e protetor. Ele cura tudo. E nunca brigamos.

É, meu mundo é paralelo, e não gosto de acordar. Quando acordo me angustio, me perco, faço nós e me enrosco sem querer neles.

Meu mundo real é meu oposto. Eu sou o outro lado. Meu oposto é minha cópia e é o que todo mundo vê: Meu mundo real eu só trabalho muito, vivo numa grande família, possuo apenas um quarto, meu lar, onde guardo meu mundo paralelo. No meu quarto só tem caixas com meus bregueços, estante com livros, cadernos e agendas antigos e uma mesa grande pra organizar mais caixas, que nunca se organizam. Minha cama, de solteira, é tão grande quanto minha esperança de viver num mundo paralelo. Ela me cabe, me acomoda, e isso basta. Eu gosto do meu mundo real, sinto-me tranquila nele. Gosto de me sentir útil. Gosto de saber que tem muita gente na minha casa, que é alegre, que tem meus pais, meus irmãos, meus filhos e minha tia e que todos formam um círculo de amor, sem começo, meio e fim. Gosto de acordar todo dia e saber que estou respirando.

Mas eu gosto de sonhar. Acordada. Olhando para o céu. E esquecer que, mesmo eu estando feliz em ter um mundo real, sinto-me vazia em saber que o meu mundo paralelo só vive dentro de mim.

Não vejo mal em ser assim, apesar de incomodar quem não acredita em sonhos. A única coisa que me inquieta, mesmo eu perdendo o medo de desencarnar, é imaginar que se eu for hoje, meu sonho irá comigo pra onde for e não vou conseguir dar a meus filhos e meu (futuro) marido a felicidade, o amor e a alegria que eu tenho pra dar. Sei mesmo é que Deus sempre faz o melhor por mim. E se eu hoje escolhi estar de mãos vazias foi para aprender a ser melhor, a ser uma verdadeira filha Dele.

E se eu morresse hoje? Ia feliz, eu acho.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A história da menina do pé quebrado

A felicidade bestializa, só o sofrimento humaniza as pessoas ”... Mário Quintana.

Origem da Família Guimarães Rocha