Carta para minha mana

O tempo passa, mesmo que a gente não saiba. 
Se hoje sou essa pessoa mais tranquila e serena é porque eu venci muitas batalhas interiores. E essas batalhas você sempre esteve ao meu lado. Não passando a mão na minha cabeça, mas me dando sempre uma luz.
Lembro bem dos meus 17 anos, quando estava em depressão, o mundo me aterrorizava, as pessoas me metiam medo, cada coisa era monstruosa diante de mim. Você me levantava, me jogava debaixo do chuveiro, fazia eu me vestir, mesmo eu me sentindo a mulher mais feia do mundo e me levava para ver pessoas, para ouvir outros sons, para falar com outras pessoas de outras opiniões, procurava meu sorriso com as bobagens dos piadistas... Lembro que tudo era uma lição e todo aprendizado estava ao meu alcance.
Cresci.
Cresci em alguns pontos, em outros não. Passei a ser o mais parecida com você possível. Passei a aprender o que você sabia. A admirar o que você admirava. A amar o que você amava.
Muitas vezes eu quis ter a tua simpatia com as pessoas. Todos te admiram (até hoje), e isso é lindo demais numa pessoa.
Vi você crescendo também, constituindo família, parindo, padecendo de amor por suas filhas, dividindo o amor, realizando sonhos, distribuindo sonhos, fazendo o povo sonhar mais.
Acompanhei, e acompanho até hoje vários projetos que estão no papel ainda e que você tem um carinho muito especial. E vejo que nenhum está sendo executado, anda sendo relembrado, tirado a poeira, mas jamais feito até o final. Quero vê-lo, quero até ajudar, se possível for, mas quero uma obra completa. Sinto falta de tua força interior, de tua crença num mundo melhor, de tua capacidade de enxergar ao longe. Sinto falta de ser tua menina...
Hoje sinto que se inverteram os papéis. Sou eu que tenho que te jogar debaixo do chuveiro, te vestir e te levar para ver o mundo atual, te fazer compreender que todos temos um pensamento diferente e ninguém vai fazer a minha felicidade, pois só eu sei o que me faz feliz.
Pois se é assim, vou fazer...

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