Por não ter esperança de beijá-lo Eu mesma, ou de abraçá-lo, Ou contar-lhe do amor que me corrói O coração vassalo, Vai tu, poema, ao meu Amado,
vai ao seu quarto dizer-lhe quanto, quanto dói Amar sem ser amada, Amar calada. Beijai-o vós, felizes Palavras que levíssimas envio Rumo aos quentes países De seu corpo negro dormente, rumo ao frio Vale onde vaga a alma Liberta que na calma Da noite vai sonhando, indiferente À fonte que, de ardente, Gera em meu rosto um rio Resplandecente. No sonolento ramo Pousai, palavras minhas, e cantai Repetindo: eu te amo. Ele, que dorme, e vai De reino em reino cavalgando sua Beleza sob a lua, Encontrará na voz de vosso canto Motivo de acalanto; E dormirá mais longe ainda, enquanto Eu, carregando só, por esta rua Difícil, meu pesado Coração recusado, Verei, nesse seu sono renovado, Razão de desencanto E de mais pranto. Entretanto cantai, palavras: quem Vos disse que chorásseis, vós também?
(balatetta, de Mário Faustino)

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