A moça da mamãe


E eu já começo a me preocupar com o jeito de sentar, de falar, de comer. Já presto atenção nas conversas de adultos e pergunto sempre o porquê. Já me entendo como um ser pensante, de responsabilidade, que pode melhorar seu futuro sendo boa menina agora. Mas sou geniosa, acredito nos meus sonhos, nos meus objetivos, já tenho vários, e corro atrás. Quando é dura demais a prova, eu peço dengosa pra minha mãe, peço trinta vezes, minha meta para ela dizer Sim, mas sei quando ela não pode me dar, sei o que ela tem e o que ela queria ter pra dar pra mim e pra meu maninho.
E eu já estou quase do tamanho dela, e quero guardar suas roupas pra eu usar quando alcançá-la, já guardo várias. Os sapatos já me cabem, e sou eu quem empresto os meus pra ela, pois vive quebrando os que compra.
Ainda gosto de brincar, de correr, de andar de bicicleta, de sorrir até doer a barriga, de comer brigadeiro, bolacha, pizza escondida.
Ainda gosto do colinho, do beijinho molhado, da massagem nas costas da mãezinha.
Entendo quando ela demora, tá na TV, e eu assisto a TV até dormir, até ela chegar.
Eu já sei cuidar dela, mas eu quero é que ela me cuide sempre.
Eu sou a moça da mamãe.

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