Tão pequenininha

... ciente de que ficará viva enquanto conseguir encaixar uma rima na outra, afinal não é assim mesmo, um verso triste num alegre, uma perda num ganho, um dia depois do outro? ... - Eliane Brum

Nos últimos dias meu coração dói quando digo pra ele que não me é permitido viver mais assim. É que ele fica brincando de ser menino, é tão levado, quer amar tudo, quer  beijos, quer carinho, quer deitar na grama e ficar contando as estrelas, quer dividir a música no mesmo fone de ouvido, quer trocar poemas, músicas, experiências... quer outro amor pra alegrar o dia dia. E eu estou tão cansada, mas tão cansada de esperar, que já disse NÃO! Não dá, coração, por favor! Eu preciso de paz pra seguir meu caminho, estou preenchendo os vazios, que consegui deixar limpinho, com outras coisas, com a energia canalizada em outros que precisam mais de mim, e agora com os estudos também. Vou entrar em outro campo acadêmico, vou aprender a viver no Social para o Social, vou me embrulhar em leituras que me tragam algum discernimento do que quero daqui a 4 anos. 
Então, por favor, eu te imploro, para de doer, para de me querer Menina outra vez, para de me empurrar para os sonhos que guardo no travesseiro, eles estão no lugar certo, para eu dormir feliz e acordar disposta... mas para seguir o dia não dá... ownnn!!!
Faz tanto tempo que não sinto essa dor, da incapacidade de realizar sonhos pequenos e dividir tanto sentimento a quem está do lado. Hoje minha solidão tá me massacrando, não quer ser minha amiga, ela atiça esse músculo involuntário, independente e incansável que habita dentro de mim, esse inquilino indesejado. Eu não me permito obedecê-lo mais, vou seguir um passo de cada vez, assim, quietinha, caladinha, sem gritar nada que venha de você, coração!
...
Quero aprender com D. Dolores o que é ser tranquila com a própria solidão: "O melhor da vida é ser sozinha, minha filha, sem ninguém pra encher o saco." "Eu sou solta no mundo, estou aqui só esperando o meu dia, enquanto isso vou vivendo, alegre." "Tem gente que entra na nossa casa e a gente dá tudo de si por ela, depois ela se torna sua pior inimiga, prefiro ficar sozinha."
102 anos de experiência, bem lúcida e alegre e com uma característica marcante: o aperto de mão firme e contínuo, não me largou em nenhum momento enquanto conversávamos. Eu aprendi muito, como nunca havia aprendido ouvindo.
Quero ser igual à Senhora, Dona Dolores, me ensine, por favor!!!





 
Hoje parei pra ouvi-la, foram os 10min mais importantes do meu dia.
Dona Dolores, 102 anos e um aperto de mão firme e sem vacilo, um olhar penetrante, uma gargalhada gostosa e uma resiliência qt a sua solidão.
Vou seguir seu conselho vozinha

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