Uma queda no caminho da Menina


Recomeçar é uma arte. 
Arte porque não tem a sorte de principiante, nem a oportunidade de um inocente. 
Arte porque tudo é mais claro, sem o véu da ilusão, sem o contorno da puberdade. 
Arte, recomeçar é a arte dos mais fracos, porque eles caem, se machucam, rasgam a máscara no chão frio e duro da verdade, ficam inertes por um tempo, fecham os olhos, esperam as lágrimas secarem, sentem a própria respiração, ouvem as batidas lentas do proprio coração. 
Fracos porque apagam a luz que há no fim, no túnel do medo. 
Fracos...
Recomeçar ficou para os mais fracos que continuam respirando e quando recebem a energia do chão que caíram, abrem os olhos devagar, mexem os dedos, suspiram, transpiram, balançam o corpo devagar e sem perceber se levantam.
Recomeçar ficou pra quem não sabe voar, pra quem não tem armadura, pra quem não possui magia.
Mas recomeçar é desaprender, perdoar, esquecer.
Recomeçar é mudar, e mudar é se despir, mostrar o íntimo, cortar o cabelo, ficar descalça. 
Despir e sentir com mais força a magia da natureza.
Calor e frio... Vento e tempestade...

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