Contar as contas do terço

Contar as contas do terço, uma a uma, e depois tirar a prova na multiplicação e divisão, isso nessa semana tem se tornado uma constante na hora do terço em intenção ao espírito de papai... é o ápice da mania de contar tudo.
Aliás contar é o que faço antes de ler qualquer frase na rua. A primeira coisa que faço ao deitar olhando as listrinhas do forro, as ripas da sala, da cozinha, do banheiro. Isso, pode dizer que é por isso que sou desligada do mundo, nem escuto nada, nem vejo nada ao meu redor. Entenda que enquanto eu conto vou relembrando meus atos e me analisando, vou decidindo o que fazer amanhã, vou desapegando do que não posso conseguir, vou arquitetando como esquecer aquele amor que deixei ir, sem esforço, sem esclarecimentos, sem súplica nenhuma... Será Amor?
Das 59 contas hoje eu sigo o conselho do padre Estevão, o italiano que tanto esbranqueci os cabelos com minhas sapequices na época da crisma:
- Padre, eu não gosto de rezar o terço, é tudo muito mecânico, repetitivo, as pessoas nem sentem o que falam.
- Tatiana, Tatiana, Tatiana... Minha filha, Nossa Senhora ensinou a gente a se ligar a Deus de uma forma muito inteligente: está vendo essas contas pequenas? Reze cada uma para uma pessoa que precise, que você goste, que não goste, que esteja doente, enfermo. São 53 pessoas por terço.
- E as grandes, padre?
- As grandes ofereça pra humanidade inteira que sofre no momento.
Viu como é fácil se ligar a Deus, menina?

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