A carência
A sexualidade é a área em que a culpa mais floresce na sociedade. Ficamos praticamente confinados as idéias e opiniões alheias porque nada sabemos sobre ela. Temos dificuldade de admitir a diversidade de sentimentos e emoções afetivas e sexuais pelo desconhecimento de nossa própria sexualidade. Por isso é tão difícil falar de carência, de saudade... As vezes vemos mulheres insuportáveis, amargas, más, pessoas que brigam, que batem porta, que falam com grosseria, que não apresentam afeto de jeito nenhum em nosso meio. Pessoas que unanimemente são tachadas de antipáticas, mas que nós não paramos para observá-las que sua vida não tem amor, elas não sabem o que é um carinho, um afeto, um abraço. Sexo pra elas é pecado, é desrespeito, é algo tão ruim quanto um assassinato. E na realidade foram crianças mal instruídas em sua vida sexual, totalmente reprimidas, mal educadas para o amor. Viram sua mãe ser mal tratada pelo próprio pai, ou no mínimo, desprezadas, diminuídas, humilhadas e acabaram por criar uma barreira com o seu próprio corpo. É tão difícil falar de carência, pois engloba a sexualidade, o desejo, o prazer. E prazer só se fala em roda de amigas, ou com aquela amiga confidente. Estou assim pra falar de meus desejos, sempre fui intensa, curiosa, incansável e tranquila nos meus poucos relacionamentos, nunca parei pra pensar porque não tive medo de conversar sobre meus desejos, minhas dúvidas, minhas fantasias com o meu parceiro, que em cada época era o amor da minha vida, o homem eterno, o único, o melhor, o maior, o tudo... Cada relacionamento meu foi eterno e não tive medo em ser tudo o que ele sonhou, esclarecendo que não acho isso demais e sim, bem natural entre casais que se amam, pois se doam mutuamente e não há o que temer no amor. Acredito na fidelidade, na lealdade, na cumplicidade e, principalmente na confiança do casamento. Acredito na intensidade de um verdadeiro amor. Acredito em contos de fadas, acredito. Eu nunca fiquei tanto tempo sem amor, tanto tempo sem amar, tanto tempo sem ser amada. E meu corpo sente, chora, clama por amor. Eu gosto de chamego, de carinho, de costela, de estar braço com braço, perna com perna assistindo TV. Eu gosto de banho tomado, com carinhos, com brincadeiras, com amor. Eu gosto de surpresas, de beleza, de fantasias. E como é difícil falar do que gosto sem me preocupar com o julgamento de quem lê. Isso se torna até engraçado, eu, uma mulher de 32 anos, independente, mãe, adulta (eu acho), com receio de falar publicamente sobre meus desejos. Porque, simplesmente eu sinto o preconceito que a maioria das pessoas tem em expressar seus pontos de vista sobre sexo. Entendo que muitos, mesmo sem admitir tem bloqueios sobre seus próprios desejos, uns por experiências más, outros por preconceito da religião que segue, outros só pelo modo como os pais encararam o assunto e passaram sem perceber para os filhos. E por falar em filhos eu não sei como conversar isso com os meus. Porque eles estão crescendo e o mundo está aí, bem mais aberto para ensinar do que no meu tempo infanto-juvenil. Eu tive minhas irmãs e amigas pra me ensinar nas dúvidas, ao encarar meus medos, mesmo assim eu só vim me conhecer aos 23 anos, antes era travada no assunto, só ouvia, só lia, só assistia. O contrário de muitas crianças que aos 10 anos já tiveram contato com o corpo de seus namoradinhos de escola, ou da esquina de casa. E eu não sei como falar sobre sexo com minha princesa de 8 aninhos, que convive com suas primas de 9 e 13 anos, respectivamente. Eu nem sei como começar o assunto. Apesar de já tentar várias vezes conversar sobre quando era pequena e não pensava nisso, aos 8 anos eu só pensava em brincar, em estudar, em passear, em conhecer o circo, o parquinho, o mar... Isso é tão difícil de falar, pois tenho medo de apressar curiosidades da idade dela, tenho medo de travar as curiosidades dela, tenho medo de errar. Ah! Como eu tenho medo de errar com meus filhos. E observo que meu medo me causa até a omissão, que acaba sendo um grande erro. Todo dia peço a Deus força e inteligência para poder ensinar meus filhos a serem saudáveis no amor, a possuírem experiências saudáveis com amor, com cumplicidade, com carinho que eu sempre tive. Mas eu sei que cada um tem seu próprio caminho e nós não podemos interferir na vontade de Deus.
Mas, depois de ser tão prolixa no assunto, eu só sei que eu estou carente hoje.
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