Desacelerando, a Menina ansiosa

Depois que a Menina acordou, voltou a pisar no chão, limpou o coração, salvou a alma da depressão, ela quis voar. E se bem que ela voou, fez como se nada a segurasse, descobriu o que quis, foi atrás, tropeçou, entrou, abriu portas, vacilou, mas aprendeu muita coisa nesse rasante que a vida lhe ofereceu e com muita estima ela aceitou. A Menina voou.
Só que tudo tem um fim, e agora, a Menina, que nem se importava com conta teve que contabilizar os prejuízos de ter voado tão alto. Viu que nada lhe sobrou nas mãos, mas o coração transbordou de alegrias, experiências e amor, pois ela reaprendeu a amar sem medidas, a amar a todos que a fazem sorrir, a amar a natureza outra vez, o céu, o sol, o mar. A Menina sabe hoje o que é amar.
Mas essa Menina precisa parar, saber que tem que construir o seu castelo outra vez, não mais para um Rei, só pra dar a segurança para seus príncipes, o príncipe e a princesa da Menina, que estão crescendo em alegria, saúde e graça, que estão pedindo alento, que querem um canto, que sonham em seu jardim, seu quintal, seu quarto. A Menina precisa parar e juntar os caquinhos de material que tem, e levar para um cantinho suas sementes para plantar. E ela mesma não quer mais se desestabilizar, ela quer sonhar, sonhar é bom, dá luz a vida da Menina, mas ela vai parar, parar de vez para recomeçar a usar as pedras do caminho para reconstruir seu lugar ao sol.
E a Menina acordou, numa manhã nublada, com febre, com dor e com a certeza de que é preciso parar.

Porque voar não adianta agora, correr não vai melhorar, andar não lhe tira do lugar.

Então é hora de parar.

E a Menina desacelerou o cérebro, a alma e o coração.

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