Do Amor e da Bebida

E todo dia a Menina acordava agradecendo por ter acordado mais um dia. Pois ela tinha uma mania mórbida de pensar que ia morrer logo.
Acredita, que todo dia ela pensava: "E se eu morresse hoje?" E pensava, e escrevia, e anotava o que era mais importante naquele dia. E era sempre sóbria no sangue e se embebia de sonhos, de vida, de cantos e encantos. E assim o tempo passou para aquela menina. Tudo o que sonhava ela conquistou, de um jeito bem particular, de uma maneira impetuosa, de uma forma impulsiva, até que em 1998 ela encontrou o homem que a ensinou a beber, e se embebedar com o seu corpo, e a sonhar em ser mãe, mulher, amiga, irmã... E o homem a laçou, no laço do amor, a levou para um lar, deu tudo o que uma mulher com um filho no ventre sonhava naquele momento, fez dela uma senhora, a tirou também, tirou sua vaidade, suas perspectivas de sonhar, seu brilho no olhar. E assim foram 5 anos. E todo aquele sonho foi terminado em uma batida de pé, pra sacodir a poeira, com a Menininha nos braços, a mochila no outro, sem vontade de olhar pra trás, sem fazer questão de um alfinete da casa que construiu com o homem que lhe fez ébria no sangue e sóbria no sonhar. NÃO! Essa foi a resposta para a dor que a consumia naquele dia infeliz.
E mais uma vez ela foi ao fundo, aquele lugar frio, escuro e cheio de espinhos. Agora ela nem sabia mais escrever, ficou aérea, voando num vazio que seu coração deixou. Nem olhou mais pra trás, ficou num torpor, numa inércia, numa lentidão íntima e infinita. Estava agora no mesmo lugar (voltou pra casa dos pais, sem nada, só com a filha, a princesinha de seus sonhos), fazendo as mesmas coisas, como se ainda fosse moça, mas não era mais, era mulher, era mãe, era adulta. Só que sua alma não condizia com sua condição atual, e os conflitos começaram a incomodar aquela Menina, que agora bebia, e se embebia de si mesma.

E vivia bebendo de seu vazio, a Menina!!!

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