O lado triste da Menina


 Ao andar pro caminhão, cabisbaixa e chorosa, a Menina lembrou de todas as suas dores como um filme triste.

Lembrou de quando era pequena e sofreu abusos de seu irmão alcoolatra. Ele passava a mão nela enquanto estava dormindo na rede e ninguém via, mesmo a casa estando cheia de gente. Era tanto medo que a alma dela flutuava e ficava longe de seu corpo. Ela nunca conseguiu chorar, nem contar, nem pedir socorro. 

Na adolescência, quando nem lembrava mais e tudo estava tranquilo os terrores voltaram a acontecer. Ele divorciou e voltou pra casa dos pais dela. Quando chegava, passava a mão nela enquanto dormia. Outra vez ficava nu na frente dela fingindo dotmir... a Menina conseguiu gritar, chamar ele de monstro, contar pros seus pais, pra sua irmã mais velha. Mas, o que ouviu é que o seu irmão alcoólatra estava doente e que ela tinha que evita-lo e se proteger quando ele tentasse alguma coisa. Que a culpa era dela com o jeito de ser extrovertido, carinhoso e alegre e aquelas roupas coladas e curtas... A Menina entrou numa depressão profunda depois de ter sido enviada pro apartamento de uma das irmãs ricas e ficado 2 anos de babá do seu sobrinho, sendo mais uma empregada, sofria humilhações por sua condição. Era menosprezada. Tentou viver seus sonhos através da escrita, eram cartas, contos e poesias que ela sobrevivia. No papel nunca falou o que sofrera, mas colocava seus sonhos e desejos pra fora. Queria se transportar pros seus sonhos. Queria viver feliz.

No fundo do poço, a Menina foi resgatada por sua irmã-fada e saiu aos poucos dessa escuridão. Os traços do sofrimento ficaram cicatrizados na alma dela. Conheceu a sua Fé em Deus de uma forma sublime e começou a traçar suas metas. Aprendeu uma profissão, trabalhou muito, conseguiu se reeguer. Tentou perdoar os algozes, apesar de tudo eram da família. Tinham que conviver pelos seus pais. 

A Menina viveu intensamente. Foi forte. Foi firme. Foi resiliente. Mas a cicatriz a fez uma mulher muito medrosa. Ela temia tudo o que não podia controlar. A Menina escreveu seu livro da vida com humildade e simplicidade. Tomou a verdade como seu principal objetivo. Mas, ainda sonhava, sonhava muito em ser plena e feliz.

Deus a abençoou. E a amou como a filha caçula que era. 

Enquanto fazia seu caminho, a Menina tentou amar várias vezes. Ela viveu muitos romances bonitos. Amou. Foi amada. Teve 2 filhos lindos frutos des dois romances distintos e lindos em sua individualidade. Criou-os com tanto amor e zelo, fez deles dois guerreiros pra vida. Fortes e inteligentes, cresceram em graça e luz. 

Deus sempre a abençoou. Ela rezava todos os dias pra que a felicidade reinasse em seu castelinho. E por muitos anos foi assim. 

Até ela ser acusada e expulsa como uma ladra e ingrata...

E era essa lágrima que caía quando o líder, que ela incondicionalmente amava, lembrou ao chamá-la de MENINA DO CASTELO DE AREIA.

Enquanto voltava pra sua casa, a Menina se perguntava o por quê de tanto amor em seu peito por um homem que ela nem conheceu direito. O que a fazia ser tão feliz com a existência dele. Amá-lo sem receber nada em troca. Amá-lo sem sentir nenhum sinal de reciprocidade. Amar por amar. O que isso significava???

E Mevi foi embora sem entender a Menina que o deixou no meio da pracinha sem respostas...

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