Um dia na floresta

Uma noite inteira chorando, sentindo angústia, o ar faltando e o corpo fraco fez a Menina arrumar sua mochila e ir andar pela floresta pra recuperar sua força e, principalmente tentar entender por que todos os seus sonhos deram errado...

Mevi sabia que estava perto de anoitecer. Mas seu objetivo era encontrar aquela menina e zerar todas as dúvidas que ficaram nesses anos todos. Ele não andava por ali com frequência, mas conhecia as trilhas para as barracas. O Rei há muito tempo havia feito o Ecoturismo de Pii, com trilhas, labirintos, quiosques e barracas para os visitantes. O verão era lotado de visitantes. Mas, naquele outono não tinha ninguém. Várias histórias contavam sobre um tigre bem grande da floresta, mas nunca foi visto por ninguém. As barracas espalhadas na floresta eram seguras e tinhas vários tamanhos. Quem alugava era o pai de Mevi, ele como filho acompanhou a montagem de várias. Imaginou a Menina numa barraca de solteiros, pois disseram que ela saiu sozinha e triste. Enquanto seguia a trilha rumo ao lado dos solteiros, avistou uns cabelos longos e encaracolados passeando na trilha ao lado. Ficou observando, viu a Menina boba falando sozinha, cantando, dançando feito criança enquanto pegava manga no pé, usando uma vara pequena, ela pulava tão engraçado que fez o grande Líder dar uma gargalhada, chamando a atenção da Menina...

- Você? 

- Oi, Menina.

- Trabalha por aqui também? Seu pai falou sobre a barraca? Olha, eu vou pagar no fim do mês a diária, prometi a ele. Você vai me mandar embora? Você está zangado comigo? Vai me mandar sair agora? Posso ter tempo de jantar? Tenho medo de andar no escuro...

- Ei. Calma!!! Você pergunta demais!!! Fala demais!!! Que chato!!!

A Menina não conseguiu segurar o choro. Saiu correndo pra barraca. Sentou quietinha, triste, com tanta vergonha do grande Líder. Poxa, ela só quis descansar. Ficar sozinha... 

Sentiu aquela mão passando no seu cabelo com carinho...

- Ei, me perdoa. Não chora. Sou um bruto, eu sei. Na realidade, fiquei feliz em te encontrar agora. Eu também tenho medo de andar no escuro aqui. Eu te achei na hora certa.

- Por que você estava me procurando? Eu fiz algo de errado?

- Não.

- Precisa de alguma montagem urgente?

-  Nâo.

-  Vai comprar lembrancinhas pra seus empregados?

- Não.

Enquanto a Menina tagarelava, Mevi observava a caixinha ao lado do travesseiro dela. De repente, ele se esticou, pegou-a e sentou na frente da Menina e perguntou logo:

- Quem te deu?

- Por quê?

- Fala pra mim.

- Fala primeiro você: o que você sabe da minha caixinha?

A Menina já sabia da importância daquele M pra ele. Ela se sentiu importante e amada por Mevi tê-la procurado na floresta e como ele tocou seu cabelo. E como a olhou com ternura.

- Menina, eu recebi uma dessa igualzinha no meu aniversário...

- Eu sei...

- Sabe???!!!

- Sim. O sr Chico me contou... Mas vejo que é você que não sabe dessa aqui.

- Pode me contar?

- Depende...

- Hummmm, depende de quê, Menina?

- Se você me ajudar a fazer um café bem gostoso...

E assim a noite foi longa com a Menina contando toda a história da sua vida. Foram risos e lágrimas e Mevi em silêncio só observava cada palavra que saía da boca dela. Eles deitaram fora da barraca olhando a lua cheia, que de tão laranja estava quase vermelha.

- Eu sou lunático!!!

A Menina soltou uma gargalhada alta e longa...

- Lunático, é?

- É!!! Eu sou apaixonado pela lua.

- Aaaaahhhh. 

Mais risos.

- Olha o deboche, Menina.

- Ah, perco o amigo mas não perco a piada.

E os dois riram a noite inteira.

A Menina acabou dormindo com a cabeça apoiada no braço de Mevi. Ele nem se mexia, não quis acordá-la. Sem sono ele ficou admirando a lua gigante e vermelha e toda aquela imensidão ao seu redor e descansou por um bom tempo sem pensar em nada. 



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