Um passeio na noite do Reduto

 Dias se passaram, na Marcenaria os trabalhos só aumentando, deixando todos muito atarefados. 


A Menina não cabia em si de tanta felicidade. Toda sua vida voltou a prosperar, apesar de não continuar a cumprir sua missão, ela via em seu novo ofício uma luz para realizá-la em breve. 

E há dias que ela não via seu novo e lindo amigo. Sentia falta do sorriso dele. Sentia falta da voz grossa e firme dele, mesmo falando pouco e ouvindo mais. Pois ela é que falava muito quando os dois se encontravam. Sentiu um pouco de vergonha de ser tão tagarela. Mas é porque ela confiava demais nele. Por um instante, lembrou do seu quarto do Castelo de Areia e sentiu saudades de ouvir a música boa e o burburinho feliz da sua vizinhança. Na realidade, ela lembrou do que Mevi falou: - Todas as noites eu estou aqui, Menina. E resolveu dar um passeio na noite do Reduto.

Nunca ela tinha se vestido tão linda. Azul sempre foi sua cor preferida. A camisa, a calça e o tênis azul, toda combinadinha. Seguiu feliz da vida.

Chegou naquela larga rua onde todos se movimentavam em um ritmo só e abriu o seu mais belo sorriso. Reviu seus amigos, conheceu os amigos dos amigos, bebeu umas poucas taças de vinho. E o olhar rodava por toda a extensão da rua e não avistava Mevi. Em um momento resolveu caminhar um pouco mais pra dentro do Reduto, onde tinham outras mesas em frente a portinhas de várias cores, com pessoas diferentes em cada portinha, coisa que a deixou curiosa e encantada.

Até que seu olho brilhou, era ele. 

O grande Líder com uma taça bem grande de vinho numa mão e na outra um cabelo curto e loiro que ele fazia um carinho bem especial. Aquele momento o chão se abriu pra Menina. Ela quis cair de tontura, mas se segurou numa cadeira próxima. Ficou alguns minutos olhando aquele gesto carinhoso do seu querido amigo com aquela mulher que fez a Menina sentir inveja dela. Uma mulher muito elegante, bonita, extravagante, sorridente demais, bebendo e abraçando Mevi com tanta força e vontade que a Menina se imaginou no lugar dela. Era inveja, era ciúme,  era raiva, era um desejo de ser algo mais importante pra ele do que aquela mulher exuberante que ele beijava a boca nesse momento. O vinho esquentou em sua mão e ela bebeu todo como se fosse água. As pernas ficaram fracas e ela se sentou, de frente praquela cena. 

A Menina chorou. E suas lágrimas eram quentes e doídas na face. Em poucos minutos ela foi pra casa, caminhando tão pesada que pensou em sentar no meio do caminho, mas seguiu até em casa e sua madrugada foi tão longa e escura que não conseguiu dormir. 

Parecia que o dia nunca ia mais clarear.

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